Uma nota distintiva e necessária dos trabalhos elaborados no Programa de Filosofia tem sido o recurso expresso à tradição filosófica, sendo esta entendida como textos originais de pensadores reconhecidos pela comunidade filosófica, com o privilégio de autores contemporâneos. Nossa área de concentração é, pois, a FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA, sendo importante registrar que a ‘contemporaneidade’ é aqui demarcada de modo algo lábil, mas certamente compreendendo os autores posteriores à elaboração sistemática hegeliana, ou seja, a filosofia resultante da crise do pensamento moderno no século XIX.
Por outro lado, em nosso Programa não é marginal a investigação da modernidade e sua constituição, sendo a leitura competente da filosofia moderna uma das condições de demarcação das tarefas filosóficas próprias da contemporaneidade. Algo semelhante pode ser dito da pesquisa em história da filosofia (mesmo antiga e medieval) quando esta pode ser matizada por projetos específicos, encontrando, através da temática de cada linha de pesquisa, seu específico recorte e a medida de sua relevância para o debate filosófico contemporâneo. Com isso, levamos em conta a relevância contemporânea ou a referência ao contemporâneo, pois essa abertura para autores e temas de nosso tempo não nos obriga a um tratamento exclusivo de filósofos contemporâneos.
Na definição de nossa área de concentração, é orgânica sua ligação com nossas três linhas de pesquisa. Em certo sentido, a escolha da área de concentração FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA revela uma ousadia. Ela testemunha, porém, em favor do papel que nosso programa desempenha regionalmente e de como pode diferenciar-se. Primeiro, tratar-se-ia de uma área ainda ampla, não estivesse determinada por suas linhas de pesquisa ou não resultassem estas de uma aproximação concordante dos trabalhos de pesquisa dos docentes.
Neste sentido, a demarcação não é apenas cronológica (o que a tornaria deveras vaga e ambiciosa), mas antes resulta de uma transformação temática posta pela contemporaneidade. Ou seja, não se trata, por exemplo, de coligir qualquer contribuição filosófica para a ciência, mas antes de focar a subordinação tanto da temática da epistemologia (compreendida como teoria do conhecimento e filosofia das ciências) como da reflexão sobre os fundamentos do conhecimento à filosofia da linguagem, em virtude da assim chamada virada lingüística, a saber, a emergência das questões relativas à natureza da linguagem e ao estatuto dos signos e das proposições lingüísticas como problema central para a filosofia.
O ingresso de novos pesquisadores tem, aliás, reforçado nessa linha o diálogo específico da filosofia com certas contribuições das ciências da natureza e das ciências formais, o que só tem enriquecido o aporte de uma reflexão lógico-epistemológica em nosso programa. Da mesma forma, o estatuto da subjetividade vê-se ameaçado por considerações que configuram um campo de crítica filosófica à cultura contemporânea e, em particular, às diversas teorias do social – crítica que veio justamente se ocupar de um conjunto de reflexões que a filosofia moderna tinha como eminentemente seu, de modo que (como nota característica da contemporaneidade) também assistimos a um renascimento do interesse filosófico por temas como o bom governo, os fundamentos do estado, o problema de uma fundamentação racional do direito à propriedade e de uma justiça social, a tensão entre obediência e resistência.
Nesse caso, a retomada de questões postas pela modernidade é evidente, distinguindo-se todavia esse renascimento por seu novo contexto mais “mundano”, não-fundacionista, não-sistemático, distante dos envolvimentos metafísicos tradicionais. Além disso, também essas correntes bastante características da contemporaneidade, a fenomenologia e a hermenêutica, em suas perspectivas metodológicas ou por seus desdobramentos, encontram uma expressão concordante no trabalho de pesquisa de vários docentes do nosso Programa, constituindo com suficiência uma linha autônoma de pesquisa, que se volta, e. g., para temas como analítica existencial, hermenêutica filosófica, filosofia da técnica e corporeidade. Vale notar, a esse respeito, que tendências filosóficas contemporâneas diversas (como a fenomenologia, a filosofia dialética, a filosofia crítica e a filosofia analítica, de certo modo correlatas prioritária ou naturalmente a esta ou aquela linha de pesquisa) nunca descuram questões próprias da reflexão sobre conhecimento e linguagem, nem sobre o estatuto da ciência.
Desse modo, não estão desunidas as linhas de pesquisa (EPISTEMOLOGIA E FILOSOFIA DA LINGUAGEM, FILOSOFIA E TEORIA SOCIAL e PROBLEMAS DE FENOMENOLOGIA E HERMENÊUTICA) que materializam a área de concentração, sendo lícito e desejável congregar nossos docentes sob tal rubrica comum (FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA), porquanto trabalham quase todos os docentes ou diretamente com filósofos contemporâneos ou em confronto com demandas contemporâneas ou ainda com questões de extrema relevância para a filosofia contemporânea.